“Não sou formada em matemática, mas
sei de uma coisa: existe uma quantidade infinita de números entre 0 e 1. Tem o
0,1 e o 0,12 e o 0,112 e uma infinidade de outros. Obviamente, existe um
conjunto ainda maior entre o 0 e o 2, ou entre o 0 e o 1 MILHÃO. Alguns
infinitos são maiores que outros” (Hazel Grace, personagem do livro “A culpa é das
estrelas” – John Green)
Ok, esta é uma citação de um livro
juvenil, e não de um livro científico, mas sua leitura foi mto proveitosa para
mim. A personagem principal tem câncer e está em fase terminal. Por esse
motivo, acredita que seu infinito é, por exemplo, de 0 a 1 e não de 0 a 1
milhão. Eu também não sou formada em matemática, e, portanto, não posso afirmar
se a informação acima é considerada correta, mas, numa primeira olhada, parece
estar de acordo com a lógica. Mas, escuta, se é infinito, como pode ser
relativo desse jeito?? Infinito é eterno, e eterno não tem começo nem fim! COMO
FAZ, PRODUÇÃO?? Existem infinitos finitos, ou infinitos pequenos e grandes?
Vinicius de Moraes achava que mesmo que
algo fosse mortal, limitado a certa circunstância, a infinitude não lhe seria, necessariamente,
usurpada. E assim, o “que seja infinito enquanto dure”, do Soneto de
Fidelidade. Este seria um infinito QUALITATIVO, não quantitativo.
Está na moda usar pingente com o
símbolo do infinito. Eu uso um, quase sempre.
Não sei qual é o motivo das outras pessoas em utilizarem em tão larga escala um
símbolo com uma conotação de tamanha força. A minha razão é que eu tenho uma
dificuldade enorme em acreditar que algumas coisas possam ser eternas. Eternas
de modo relativo ou absoluto. Tenho medo do fim: “quem sabe a morte, angústia de
quem vive, quem sabe a solidão, fim de quem ama” (Soneto de Fidelidade).
Não tenho medo de morrer. Tenho medo
da morte das pessoas que amo. Não tenho medo da solidão do dia a dia, daquelas de
quem mora sozinho. Tenho medo de não poder ligar para quem mais amo num momento
de choro. Tenho medo de não vislumbrar mais o brilho dos seus olhos e não mais
ouvir o som reconfortante de sua risada. E seu cheiro? Onde o encontraria? Tenho
medo da perda. Apavoro, estremeço.
Tenho medo. Já perdi muito. Perdi
amizades, perdi oportunidades, perdi “amores”, perdi planos, alegrias,
esperanças... Para mim, é simplesmente muito complicado acreditar na infinitude
de alguma coisa.
Uso o meu pingente, então, para me
lembrar diariamente que eu não sou imortal, mas que algumas coisas são (em quantidade ou qualidade). Deus, por sua infinita
graça e bondade, é presença constante em minha vida e é eterno. Ele é o
Alfa e o Ômega. Com Ele, nunca estou só. Fora Ele, poucas coisas são infinitas.
E se são, o são de forma relativa, qualitativa, não pra valer.
É infinito o sentimento de amor...
Relativamente. Como sempre digo às minhas amigas, se acabou, é porque não era
amor. Simples. O amor “tudo suporta, tudo crê, tudo espera” (I Coríntios 13).
Paixão, não: se apaga com a mesma velocidade e intensidade com as quais se
inflamou. Entretanto, não posso deixar de considerar a infinitude
qualitativa.
Quando você está com alguém que AMA,
certos momentos são, sim, eternos. Não duram cronologicamente uma quantidade de
tempo incontável. Mas são importantes numa proporção tão gigantesca, que você
chama de INFINITO! As pessoas passam, os anos passam, tudo passa (e alguns
comediantes de banheiro diriam: até a uva PASSA) (aposto que você deu aquele
risinho de canto de boca, só pra não perder a amizade, né?! Hahaha É, eu
também!). ENTRETANTO, qual é
o maior mérito da vida, senão saber valorizar os momentos inesquecíveis, de
lembranças e sensações incomparáveis com pessoas que te AMAM?!
A capacidade humana ainda não
estabeleceu formas de manutenção eterna da vida. Somos pó de estrela.
Somos barro amassado. Somos fim. Não há ilusão mais imbecil que a de achar que
somos acima de tudo e todos. Não somos. Por isso, cada pequeno infinito deve
ser exaltado como se de 0 a 1 MILHÃO o fora, como universal, sem igual, eterno
meeesmooo...
A frase que dá nome a essa postagem é
o lema de um personagem do filme Toy Story, o Buzz Lightyear. Por um tempo, ele
não percebe que é um brinquedo, ao invés de um super herói. Assim, quando
descobre que na verdade não tem poderes mágicos, ele se decepciona. Mesmo não
tendo habilidades mágicas, ele consegue realizar grandes feitos com seus
companheiros, outros brinquedos.
Ainda que nossa existência seja limitada
(sem poderes mágicos, tal qual Buzz Lightyear), temos nossas pequenas vitórias,
singelos contentamentos. Prometer amar alguém por toda a sua vida, já é um evento e tanto! Conseguir assim fazê-lo, então, deve ser motivo para fogos
de artifício e nota no Jornal Nacional. Felizes são aqueles capazes disso,
agraciados com um amor por toda a vida. Meu pingente me lembra de ter essa esperança... a
de encontrar e MANTER alguns dos infinitos, pequenos que sejam, mas meus... significativos
infinitos!
Um comentário:
Texto maduro e belo, garota.
Só prá lembrar: também já fui mágico, nos semáforos de SPaulo: "vou fazer o sinal abrir no três" e pá, abria. Eu era demais. Depois, vocês cresceram e eu deixei de ser "brinquedo" que fazia mágicas.
Mas, de verdade, algumas "mágicas" todos nós que amamos fazemos, vez por outra.
Parabéns.
Bob
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