terça-feira, 27 de agosto de 2013

Ssshhhhh!!!!

Queria escrev













Não adianta iluminar o espaço em branco. Não há letras para serem lidas. Fique tranqüilo. Sua tela não está com problemas e sua vista não está tão ruim.
Nada.
Um minuto de silêncio quando alguém se foi é a comprovação de que nossa inquietude discursiva é característica nata. Nem dentro da barriga da mãe estamos em total silêncio, quanto mais nesse mundão de meu Deus! Onde encontramos o nada? Em qual local está o vazio?
O silêncio gera em nós um incômodo, vez por outra, tão grande quanto nosso estresse diário com barulhos e outras coisas. Buscamos preenchimento. Não ouvir nenhum som, permanecer num vazio de vocabulário é irritante para nós, seres tão ligados em tecnologia, ávidos por alguma nova informação, argumento ou conversa fiada. NÃO VAI FALAR NADA???
Nossas bocas podem estar mudas, mas nossa mente está fervendo. Não encontramos silêncio nem mesmo internamente. Vivemos insones. Nem nossos sonhos são calados!
Para onde se foge do tulmulto dos gritos da cabeça, das pessoas, da cidade, do mundo? Meditação? Oração? Ioga? Retiro espiritual? Terapia?
A Bíblia, tão cheia de bons conselhos e tão rica em boas respostas, afirma: Há “...tempo de calar, tempo de falar” (Eclesiastes 03:07). Tantas coisas podem ser entendidas e ditas com palavras!! E tantas outras podem ser sentidas e expressas no silêncio!!!
Nosso intelecto tem formas próprias de nos interrogar. Eu, como boa falante que sou, falo mesmo! Isso independe da presença física de um interlocutor participante. Ok, assumo, portanto, que falo sozinha, argumento COMIGO e para mim: às vezes eu ganho de mim mesma... às vezes eu perco. Raramente estou em total silêncio! Em certos momentos, não falo para fora, mas, sim, para dentro. E meu discurso internamente persuasivo é tão forte, que nem sempre sei quando estou do lado do meu advogado intrínseco ou do meu promotor. Às vezes sou mera juíza de mim mesma, declarando empate entre as partes envolvidas. Meu grilo falante BERRA, não fala. E ele não apenas me aconselha a fazer o que é correto na vida, mas palpita muitoooo, tagarela sobre tudo! Eu acho que tenho o grilo falante mais barulhento e intromedido do mundo! Eu o escuto na maior parte das vezes, mas quando to sem paciência com ele, tapo os ouvidos tal qual uma criança de 5 anos e falo mais alto: LÁLÁLÁLÁLÁLÁ!!!!
Somos apressados em falar ou simplesmente manifestar um parecer, ainda que não seja em palavras, ainda que por meios não verbais (CURTIR, no face!) Esperamos ansiosamente por opiniões, quando às vezes nos é dada a oportunidade de calar, esperar, ou confessar para si mesmo e para Deus, em silêncio, o que nos aflige, alegra, preocupa ou prende. Para isso, tem-se o momento de oração silenciosa na igreja: conversa-se com Deus, os pecados são confessados e clama-se por perdão. E aí é que ta o galho: algumas pessoas esperam menos de 10 segundos para interromper o silêncio das orações na igreja. Mal falei “oi, Deus, td bem? Então, vamos conversar” e nego já mete o louco na minha oração silenciosa!!! (Ai, extravasei! Tava muito culta até agora na postagem!! Hahahaha)
Onde está a paciência para o silêncio?! Nem professores a têm! Alguns estudos falam sobre o wait-time. Eu usei isso na minha dissertação do mestrado. Esse wait-time é o tempo em silêncio entre alguma pergunta feita pelo professor e uma possível resposta do aluno. Esse tempinho, de acordo com alguns autores, muitas vezes não passa de um segundo!!! Sabe lá o que é isso? O professor faz a pergunta e logo já dá uma resposta pra ela, porque, olha que absurdo, o aluno demorou MAIS DE UM SEGUNDO PRA PENSAR NUMA RESPOSTA, FORMULÁ-LA NA CABEÇA E EXPRESSÁ-LA VERBALMENTE!!! Os dias são difíceis e passam voando pra quem é caladão! Calou, perdeu!
Eu mesma tenho pressa. Falo no: 1, 2, JÁ!! Nem espero chegar no 3. To me controlando um pouco mais, depois de já ter falado umas tantas abobrinhas por aí. O silêncio que precede a ruína de uma discussão por uma palavra proferida é o que divide o “pensar merda” do “falar merda”. Nem sempre respeitamos nosso grilo falante. Ele berra... E continuamos a “lálálálá”, com as palmas das mãos nas orelhas.
O silêncio pode ser argumentativo. O silêncio pode ser consolador. O silêncio pode ser altamente comunicativo quando duas pessoas se conhecem PRÁ VALER!! Quantas vezes sua mãe te olhou feio no supermercado e você soube que não era pra brincar na área das louças de cerâmica? Sem falar nada...
            O silêncio pode ser alegria, pode ser amor!!! O silêncio pode ser contemplativo! Olhar nos olhos de alguém e saber o que o outro sente é algo tão digno de importância quanto as declarações faladas... Em certos casos, até mais sincero! O silêncio da contemplação parece estar se perdendo num mar de verbos, sujeitos, advérbios, adjetivos e predicados! Cadê o suspirar sem falar?
            Não acho que meu maior defeito seja falar demais. Aliás, não sei se falar demais é um defeito. Talvez, o ruim seja falar sem pensar, e não, ter uma verborragia crônica e consciente. Talvez, a falta de qualidade esteja na fofoca, na preocupação miserável em falar da vida alheia, não na quantidade que se fala. Mas, sinceramente? Sinto tanto a falta do silêncio quanto a falta de pessoas que SAIBAM CONVERSAR!!
            Em tempos em que monossílabos viraram citações célebres, saber conversar, formular uma frase com sentido, virou uma virtude, tanto quanto a de saber silenciar.

            E silenciar-se um pouco pode ser tão aliviador quanto o conselho de um amigo querido!

Um comentário:

Anônimo disse...

Depois de ler o post, melhor eu ficar em silêncio.
Mas vai um só comentário: sabe que conversar consigo mesmo é bíblico? Davi fazia isto (veja o Salmo 42): "Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus!".
Ora, se Davi falava consigo mesmo (e ele era muito especial para Deus), também nós devemos fazê-lo.
E viva quem dialoga, debate e argumenta consigo mesmo.
Parabéns.
Bjão do Bob

Bob