quinta-feira, 26 de junho de 2014

A Copa, a zebra e o rolo das identidades!


    Namoro alguém que definitivamente foi mordido pelo bichinho do futebol. Ele é (e está, num nível maior, por ocorrências recentes) viciado em futebol. Eu sou menos viciada do que qualquer homem, apesar de saber o que é impedimento. Torço para um time da cidade, vou ver os jogos, tranquilamente, sem me estressar muito. Ir ao estádio é infinitamente mais emocionante do que assistir as partidas pela TV, com certeza! Mas o que eu gosto mesmo, o que me emociona e me prende em frente às grandes telas de LCD domiciliares é A COPA DO MUNDO!! Assisto aos jogos do Brasil. É a minha seleção!! Não interessa! E eu sei que muito foi roubado à mão grande, eu sei que muita palhaçada tem sido cometida, e mais palhaços fomos nós de votarmos em pessoas desse grau de exploração! MAS... nunca torceria contra O MEU BRASIL! :) Torço. E meus vizinhos sabem! Grito demais!
    O que se tem dito por aí é que, definitivamente, essa é a Copa da zebra!!! Está “dando zebra”... a torto e a direito!! Já escutei tanto essa expressão, que fui atrás de sua origem. Apesar de ser usual no meio futebolístico, ela surgiu nos jogos do bicho. A zebra, no jogo do bicho, não existe. Muitos animais estão presentes na jogatina, mas a coitada da zebra, não! Por isso, o “dar zebra” é ligado a algo impossível de acontecer, um resultado totalmente inesperado. A “zebra”, nesta Copa, está relacionada às seleções de sucesso e às menos cotadas ao título mundial. Quem, em sã consciência, acompanhando um pouco do histórico de alguns times, pensaria que a Costa Rica poderia vencer a grande, a temida, a tetra Itália, de Andrea Pirlo e Mario Balotelli?! Aahhh, vá! E a Espanha, campeã mais recente da Copa? Um time de velhinhas! As senhoras da minha igreja dariam um show nela, assim como a Holanda deu, sem muitas dificuldades! Imagina só: Dona Genil na zaga, dona Neide no ataque, dona Persídia de meia, bolando as jogadas ofensivas (piadinha interna: porque de meia, a dona Persídia é muito boa! Ela fez uma de inverno pra mim! Hahahaha Sorry, caro leitor!)
    A zebra, a miserável, que não sabe se é listrada de preto ou de branco, que tem problemas de identidade, se assemelha a tantas seleções ignoradas, que agora dão show de vários gols, quando deveriam ser assoladas por seleções mais populares, mais européias, mais capazes, as favoritas. E qual não seria a tentação de permanecer no limbo, de continuar com a identidade de uma seleçãozinha de nada, vir ao Brasil apenas para aproveitar a paisagem deste país tão bonito e diverso, dar uma volta, jogar uma pelada com os bambinos, de boa e sem obrigação E VOLTAR PARA A CASA? Porque, de vez em quando, parece tão mais fácil ser “go with the flow”, ir levando, na inércia, à mercê das identidades que nos são atribuídas, dias após dias!
    Se pensarmos bem, quantas vezes já chamamos o Joãozinho da nossa sala de aula de burro (“dá zero pra ele!”, como diria o Chaves). E, surpreendentemente, por sorte, por estudo ou por alguma intuição à Chico Xavier, UM DIA, o tal Joãozinho responde corretamente a pergunta feita pela incansável professora. E todo mundo ri, como de costume, sem perceber que o coitado respondeu corretamente, mas, olha só!! Não é que ele respondeu certo?! Óóóó!! Ou, quantas vezes não nos surpreendemos conosco, com outras pessoas, tão conhecidas? De repente, as velhas identidades são jogadas ao longe. Não servem mais. Ficam para uma outra hora, quem sabe?
    O que percebo, ao assistir todo o frisson causado em torno das seleções que até ontem eram as coitadinhas, é que as identidades nessa Copa do Mundo estão muito confusas. Isso, por incrível que pareça, está sendo ótimo! É possível que este seja um dos motivos que façam com que já estejam comentando que a Copa de 2014, no Brasil, é a mais emocionante, a melhorzona de todas até hoje.
    A vida, assim como o futebol, é uma caixinha de surpresas (ufs! Que clichezinho!). Um dia, a menina calma grita, o rapaz desacreditado passa no vestibular de uma estadual, o cético passa a crer e o otimista se desespera. As coisas mudam. As identidades se modificam. E a coitada da zebra pode ser o que ela resolver ser: preta, branca, rosa, tom pastel.

    Ao mesmo tempo, dá um trabalho mudar! Dá um trabalho danado virar o jogo, mandar de 5 a 0 num momento de estresse, em que todo o estádio vaia e grita “Volta pra casa!!! Essa não é a sua praia!! Você não é essa pessoa!”. E se eu quiser ser? Me engulam! Eu sei: não sou a favorita ao título. Isso não quer dizer que não consigo chegar lá. Me segurem se conseguirem! To entrando com bola e tudo NO GOL...

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