terça-feira, 8 de outubro de 2013

Ctrl+Z

           

            
            Ex. Aquele prefixo que indica algo para fora, EXterno, EXcluso, EXterior, EXtrínseco. Uma conotação tão solitária e fria: aquilo que foi e não é mais. Ex.

Associar o prefixo a um indivíduo parece uma tendência natural. E como duas letras podem invocar tanta simbologia? Ex é só uma palavra... Né não?
            Nananinanão. Ex é o tapa na cara do planejamento, é o bumerangue te atingindo pela nuca, é o cocô no sapato, é a sorrateira puxada de tapete do destino. Se é que o destino é também uma entidade, tal qual a maioria dos ex. E aqui utilizo a palavra “entidade” como sinônimo para indivíduo, não espírito. Se bem que alguns... Enfim, mas ex pode ser tudo! O conceito trata de um rompimento: todos já rompemos com algo e, portanto, todos somos ex-alguma coisa! Ex-aluno, ex-colega, ex-fumante, ex-baladeiro, ex-bailarino, ex-cantor, ex-modelo, ex-trabalhor, ex-gordo, ex-feio e até ex-gay!!!
Podemos ser ex sem nem nos darmos conta!! Ex não é um título oficialmente imposto, com pompa e circunstância, faixa e marcha! Todos já fomos algo um dia e já deixamos de o ser (porque além de romper com algo, nós todos já voltamos atrás nessa decisão pelo menos uma vez). Não entendo qual é o propósito de tanto drama! Ex não é, afinal, uma denominação tão desonrosa assim! A não ser quando ocorre o famoso barraco, alguma briga na hora do adeus (seja em qual situação for).
É possível, sim, deixar a cena sem derrubar o refletor, a cortina, o cenário e os atores! É possível sair de fininho, cumprimentar o anfitrião da festa e vazar. É possível dar o Crtl+Z e não causar demais. Independente do que EX seja e signifique, do conceito aplicado a qualquer substantivo ou adjetivo, o drama não é requisito obrigatório. Mas não podemos negar que é mais emocionante e até criativo! Afinal, quantas músicas já não foram feitas sob o efeito enlouquecedor de “não ser mais o que era”, e em particular, falando sobre o não-relacionamento, o não-mais-namorado, a não-mais-amada, o não-mais-amor, sobre A FOSSA de um término?! E cada um de nós aprecia pelo menos uma dessas músicas, poesias, filmes, etc. A tristeza, o ódio, o remorso, a vontade de dar o troco são mais poéticos que a alegria, a satisfação. Dão mais ibope.
E aí vai a top list pra provar meu ponto de vista, só para exibir algumas músicas dentre tantas boas e ruins que viraram hits: Meu mundo caiu (Maysa), Assim caminha a humanidade (Lulu Santos), Someone like you (Adele), You oughta know (Alanis Morrissette), That I would be good (idem), All by myself (Celine Dion), So what (Pink), Na sua estante (Pitty), Hate that I love you (Rihanna), California king bed (idem), Fico assim sem você (Adriana Calcanhoto), Devolva-me (idem), Vambora (idem), I miss you (Blink 182), Vermilion Part 2 (Slipknot), Desperdiçou (Sandy e Jr), Você não vale nada mas eu gosto de você (Calcinha Preta),  If I were a boy (Beyoncé), Single ladies (idem), Linger (The Cranberries), Só vou gostar de quem gosta de mim (Caetano Veloso), Don’t speak (No Doubt), Garçom (Reginaldo Rossi), Going under (Evanescence), My immortal (idem), November rain (Guns N’ Roses), Coleção (Ivete Sangalo), I will survive (Gloria Gaynor), Depois (Marisa Monte), Meu erro (Os Paralamas do Sucesso), Quase um segundo (idem), Me liga (idem), My lover’s gone (Dido) Ainda é cedo (Legião Urbana) e, claro, os Backstreet Boys, com “I need you tonight” (ooopaaa, não poderia faltar!)
Falando mais especificamente sobre o romance, parece que os ex acabam revestidos de uma nuvem negra e o que não percebemos é que a saída de um pode gerar a entrada de outra pessoa, posteriormente. Tem-se nova oportunidade, talvez maior, melhor, mais bonita, que traz mais felicidade, mais amor, mais compreensão, é mais completa. Entretanto, os ex sempre serão ex.
Depois do pé nos glúteos (dado ou tomado) todo o sentimento de uma relação parece virar disputa: quem namora o melhor, quem está mais feliz no facebook. Começa-se uma corrida insana rumo a uma felicidade artificial, para os outros. E ex vira entidade (agora usando o outro sentido), fantasma, decujo, falecido, o passado que condena, a corrente arrastada, o espírito do mal. O rompimento produz a sensação de propriedade perdida, por mais que a ideia de posse seja inadequada num relacionamento amoroso.
Meu nome é Elisa e eu sou uma ex. Não mantenho todos os meus ex por perto, mas cada um deles teve seu momento e importância. Dificilmente um ex-namorado vira seu melhor amigo. Mas o civilizado já é mais do que suficiente!! O passado está atrás de tudo o que vivo hoje e o hoje me faz muito bem. Já chorei e já fiz chorar. Gritei, implorei até, mas a gente aprende com o tempo e se enxerga de maneira melhor, mais afinada com o que somos de verdade. A perda gera tristeza e faz parte se debruçar na cama em posição fetal: o “luto” deve ser vivenciado. Nunca haverá um DELETE das relações, porque sempre saímos com marcas. Mas, como diz outra música de fossa, “tudo passa, tudo passarááá”.
O novo vem e o que é bom de verdade permanece. A resposta de Deus, do tempo, do destino, da história é uma nova chance e deve ser aproveitada. Somos parte do que fomos, mas somos também o que somos, seremos o que Deus lá bem quiser! E ser ex-algo não é peso, é possibilidade. Nem todos os planos foram feitos para serem cumpridos. A beleza da vida está EXatamente nisso. Por isso, EXterne um sorriso nos lábios, EXploda em alegria no coração, porque é pra frente é que se anda.

Um comentário:

Anônimo disse...

Engraçado. Você não mencionou ex-chato. Não existe???
Por vezes, alguns viram “EX” por força da sobra. Exemplo: EXcedente (muito comum na empresa, quando vai demitir alguém). Aí é ruim, pois ser sobrante tem um preço bem alto.
Mas tem o “EX” do bem: EXcarcerar (tirar do cárcere). Ópucevê, que coisa boa!
E, para não ser inserido no rol dos EXcluídos, vou parar por aqui.
Belo texto, magrellla.
Bjo.
Bob