Ex. Aquele prefixo que indica
algo para fora, EXterno, EXcluso, EXterior, EXtrínseco. Uma conotação tão
solitária e fria: aquilo que foi e não é mais. Ex.
Associar o prefixo a um indivíduo
parece uma tendência natural. E como duas letras podem invocar tanta
simbologia? Ex é só uma palavra... Né não?
Nananinanão.
Ex é o tapa na cara do planejamento, é o bumerangue te atingindo pela nuca, é o
cocô no sapato, é a sorrateira puxada de tapete do destino. Se é que o destino
é também uma entidade, tal qual a maioria dos ex. E aqui utilizo a palavra “entidade”
como sinônimo para indivíduo, não espírito. Se bem que alguns... Enfim, mas ex
pode ser tudo! O conceito trata de um rompimento: todos já rompemos com algo e,
portanto, todos somos ex-alguma coisa! Ex-aluno, ex-colega, ex-fumante, ex-baladeiro,
ex-bailarino, ex-cantor, ex-modelo, ex-trabalhor, ex-gordo, ex-feio e até
ex-gay!!!
Podemos ser ex sem nem nos darmos
conta!! Ex não é um título oficialmente imposto, com pompa e circunstância,
faixa e marcha! Todos já fomos algo um dia e já deixamos de o ser (porque além
de romper com algo, nós todos já voltamos atrás nessa decisão pelo menos uma
vez). Não entendo qual é o propósito de tanto drama! Ex não é, afinal, uma
denominação tão desonrosa assim! A
não ser quando ocorre o famoso barraco, alguma briga na hora do adeus
(seja em qual situação for).
É possível, sim, deixar a cena sem
derrubar o refletor, a cortina, o cenário e os atores! É possível sair de
fininho, cumprimentar o anfitrião da festa e vazar. É possível dar o Crtl+Z e
não causar demais. Independente do que EX seja e signifique, do conceito
aplicado a qualquer substantivo ou adjetivo, o drama não é requisito
obrigatório. Mas não podemos negar que é
mais emocionante e até criativo! Afinal, quantas músicas já não foram
feitas sob o efeito enlouquecedor de “não ser mais o que era”, e em particular, falando sobre o não-relacionamento, o não-mais-namorado, a
não-mais-amada, o não-mais-amor, sobre A FOSSA de um término?! E cada um de nós
aprecia pelo menos uma dessas músicas, poesias, filmes, etc. A tristeza, o
ódio, o remorso, a vontade de dar o troco são mais poéticos que a alegria, a
satisfação. Dão mais ibope.
E aí vai a top list pra provar meu
ponto de vista, só para exibir algumas músicas dentre tantas boas e ruins que
viraram hits: Meu mundo caiu
(Maysa), Assim caminha a humanidade
(Lulu Santos), Someone like you
(Adele), You oughta know (Alanis
Morrissette), That I would be good
(idem), All by myself (Celine Dion),
So what (Pink), Na sua estante (Pitty), Hate
that I love you (Rihanna), California
king bed (idem), Fico assim sem você
(Adriana Calcanhoto), Devolva-me
(idem), Vambora (idem), I miss you (Blink 182), Vermilion Part 2 (Slipknot), Desperdiçou (Sandy e Jr), Você não vale nada mas eu gosto de você
(Calcinha Preta), If I were a boy (Beyoncé), Single
ladies (idem), Linger (The
Cranberries), Só vou gostar de quem
gosta de mim (Caetano Veloso), Don’t
speak (No Doubt), Garçom
(Reginaldo Rossi), Going under
(Evanescence), My immortal (idem), November rain (Guns N’ Roses), Coleção (Ivete Sangalo), I will survive (Gloria Gaynor), Depois (Marisa Monte), Meu erro (Os Paralamas do Sucesso), Quase um segundo (idem), Me liga (idem), My lover’s gone (Dido) Ainda
é cedo (Legião Urbana) e, claro, os Backstreet Boys, com “I need you tonight” (ooopaaa, não
poderia faltar!)
Falando mais especificamente sobre o
romance, parece que os ex acabam revestidos de uma nuvem negra e o que não
percebemos é que a saída de um pode gerar a entrada de outra pessoa, posteriormente.
Tem-se nova oportunidade, talvez maior, melhor, mais bonita, que traz mais
felicidade, mais amor, mais compreensão, é mais completa. Entretanto, os ex
sempre serão ex.
Depois do pé nos glúteos (dado ou
tomado) todo o sentimento de uma relação parece virar disputa: quem namora o
melhor, quem está mais feliz no facebook. Começa-se uma corrida insana rumo a
uma felicidade artificial, para os outros. E ex vira entidade (agora usando o
outro sentido), fantasma, decujo, falecido, o passado que condena, a corrente
arrastada, o espírito do mal. O rompimento produz a sensação de propriedade
perdida, por mais que a ideia de posse seja inadequada num relacionamento
amoroso.
Meu
nome é Elisa e eu sou uma ex.
Não mantenho todos os meus ex por perto, mas cada um deles teve seu momento e
importância. Dificilmente um ex-namorado vira seu melhor amigo. Mas o civilizado já
é mais do que suficiente!! O passado está atrás de tudo o que vivo hoje e o hoje me
faz muito bem. Já chorei e já fiz chorar. Gritei, implorei até, mas a gente
aprende com o tempo e se enxerga de maneira melhor, mais afinada com o que
somos de verdade. A perda gera tristeza e faz parte se debruçar na cama em
posição fetal: o “luto” deve ser vivenciado. Nunca haverá um DELETE das
relações, porque sempre saímos com marcas. Mas, como diz outra música de fossa,
“tudo passa, tudo passarááá”.
O novo vem e o que é bom de verdade permanece. A resposta de Deus, do tempo, do destino, da
história é uma nova chance e deve ser aproveitada. Somos parte do que fomos,
mas somos também o que somos, seremos o que Deus lá bem quiser! E ser ex-algo
não é peso, é possibilidade. Nem todos os planos foram feitos para serem
cumpridos. A beleza da vida está EXatamente nisso. Por isso, EXterne um sorriso
nos lábios, EXploda em alegria no coração, porque é pra frente é que se anda.
Um comentário:
Engraçado. Você não mencionou ex-chato. Não existe???
Por vezes, alguns viram “EX” por força da sobra. Exemplo: EXcedente (muito comum na empresa, quando vai demitir alguém). Aí é ruim, pois ser sobrante tem um preço bem alto.
Mas tem o “EX” do bem: EXcarcerar (tirar do cárcere). Ópucevê, que coisa boa!
E, para não ser inserido no rol dos EXcluídos, vou parar por aqui.
Belo texto, magrellla.
Bjo.
Bob
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