Namoro alguém que definitivamente foi mordido
pelo bichinho do futebol. Ele é (e está, num nível maior, por ocorrências
recentes) viciado em futebol. Eu sou menos viciada do que qualquer homem,
apesar de saber o que é impedimento. Torço para um time da cidade, vou ver os
jogos, tranquilamente, sem me estressar muito. Ir ao estádio é infinitamente
mais emocionante do que assistir as partidas pela TV, com certeza! Mas o que eu
gosto mesmo, o que me emociona e me prende em frente às grandes telas de LCD domiciliares
é A COPA DO MUNDO!! Assisto aos jogos do Brasil. É a minha seleção!! Não
interessa! E eu sei que muito foi roubado à mão grande, eu sei que muita
palhaçada tem sido cometida, e mais palhaços fomos nós de votarmos em pessoas
desse grau de exploração! MAS... nunca torceria contra O MEU BRASIL! :) Torço. E meus vizinhos sabem! Grito demais!
O que se tem dito por aí é que, definitivamente,
essa é a Copa da zebra!!! Está “dando zebra”... a torto e a direito!! Já
escutei tanto essa expressão, que fui atrás de sua origem. Apesar de ser usual
no meio futebolístico, ela surgiu nos jogos do bicho. A zebra, no jogo do
bicho, não existe. Muitos animais estão presentes na jogatina, mas a coitada da
zebra, não! Por isso, o “dar zebra” é ligado a algo impossível de acontecer, um
resultado totalmente inesperado. A “zebra”, nesta Copa, está relacionada às
seleções de sucesso e às menos cotadas ao título mundial. Quem, em sã consciência,
acompanhando um pouco do histórico de alguns times, pensaria que a Costa Rica poderia
vencer a grande, a temida, a tetra Itália, de Andrea Pirlo e Mario Balotelli?!
Aahhh, vá! E a Espanha, campeã mais recente da Copa? Um time de velhinhas! As
senhoras da minha igreja dariam um show nela, assim como a Holanda deu, sem
muitas dificuldades! Imagina só: Dona Genil na zaga, dona Neide no ataque, dona
Persídia de meia, bolando as jogadas ofensivas (piadinha interna: porque de
meia, a dona Persídia é muito boa! Ela fez uma de inverno pra mim! Hahahaha Sorry,
caro leitor!)
A zebra, a miserável, que não sabe se é
listrada de preto ou de branco, que tem problemas de identidade, se assemelha a
tantas seleções ignoradas, que agora dão show de vários gols, quando deveriam
ser assoladas por seleções mais populares, mais européias, mais capazes, as
favoritas. E qual não seria a tentação de permanecer no limbo, de continuar com
a identidade de uma seleçãozinha de nada, vir ao Brasil apenas para aproveitar
a paisagem deste país tão bonito e diverso, dar uma volta, jogar uma pelada com
os bambinos, de boa e sem obrigação E
VOLTAR PARA A CASA? Porque, de vez em quando, parece tão mais fácil ser “go with the flow”, ir levando, na
inércia, à mercê das identidades que nos são atribuídas, dias após dias!
Se pensarmos bem, quantas vezes já chamamos
o Joãozinho da nossa sala de aula de burro (“dá zero pra ele!”, como diria o
Chaves). E, surpreendentemente, por sorte, por estudo ou por alguma intuição à
Chico Xavier, UM DIA, o tal
Joãozinho responde corretamente a pergunta feita pela incansável professora. E
todo mundo ri, como de costume, sem perceber que o coitado respondeu
corretamente, mas, olha só!! Não é que ele respondeu certo?! Óóóó!! Ou, quantas
vezes não nos surpreendemos conosco, com outras pessoas, tão conhecidas? De
repente, as velhas identidades são jogadas ao longe. Não servem mais. Ficam
para uma outra hora, quem sabe?
O que percebo, ao assistir todo o frisson
causado em torno das seleções que até ontem eram as coitadinhas, é que as
identidades nessa Copa do Mundo estão muito confusas. Isso, por incrível que
pareça, está sendo ótimo! É possível que este seja um dos motivos que façam com
que já estejam comentando que a Copa de 2014, no Brasil, é a mais emocionante,
a melhorzona de todas até hoje.
A vida, assim como o futebol, é uma
caixinha de surpresas (ufs! Que clichezinho!). Um dia, a menina calma grita, o
rapaz desacreditado passa no vestibular de uma estadual, o cético passa a crer
e o otimista se desespera. As coisas mudam.
As identidades se modificam. E a coitada da zebra pode ser o que ela resolver
ser: preta, branca, rosa, tom pastel.
Ao mesmo tempo, dá um trabalho mudar! Dá um
trabalho danado virar o jogo, mandar de 5 a 0 num momento de estresse, em que
todo o estádio vaia e grita “Volta pra casa!!! Essa não é a sua praia!! Você
não é essa pessoa!”. E se eu quiser ser? Me engulam! Eu sei: não sou a favorita
ao título. Isso não quer dizer que não consigo chegar lá. Me segurem se
conseguirem! To entrando com bola e tudo NO
GOL...