“Veja o
sol dessa manhã tão cinza. A tempestade que chega é da cor dos teus olhos
castanhos”.
Há uns dois anos, a música Tempo Perdido se
tornou a minha preferida dentre todas as que eu frequentemente escuto. A melodia
linda, a introdução, que se repete em riffs no resto da música, a letra tocante,
tudo! Simplesmente tudo nela
me agrada!!! É aquele tipo de música que eu ouço repetidas vezes e não me
canso!
O engraçado nisso é que, apesar de adorar a
letra, o trecho transcrito acima sempre foi motivo de dúvida e reflexão pra
mim. Me pego pensando no por que de o Renato Russo ter descrito a tempestade
como marrom, castanha como os olhos de alguém. Apesar de saber que toda música
tem diversas conotações, essa parte me intriga! Eu não sou louca!! As tempestades
têm nuvens cinzas, azuladas, escuras, não marrons, certo??
Essa minha interrogação permaneceu até que,
em um dia como o de ontem, eu compreendi. Tempestades que levantam o pó do
chão, a poeira, a terra, são, sim, marrons. E a foto de abertura do post, que
prova isso, foi tirada ontem, na hora da formação de uma tempestade forte.
E a letra me leva obrigatoriamente a
perguntar: quantas vezes as nossas tempestades não estão nos olhos de alguém,
não somente em cor, mas em razões? Quantas vezes um amor, o olhar fundo nos
olhos, não levanta todo o tipo de poeira do chão, daquela que não há como
esconder sob nenhum tapete mágico e gigante? E quanta tempestade em copo d’água
não é feita desnecessariamente por isso?
E dentre tanto aguaceiro e lágrimas, o
alívio desejado vem num abraço forte, na sensação de estar apenas com a pessoa
e longe de tudo o que incomoda, na conexão a dois, num momento em que nada mais
importa além do par, tendo uma contagem de tempo exclusiva!
E só
quem já se apaixonou de verdade sabe! Não há como esconder! As borboletas
sobrevoam o estômago e o bater de suas asas atingem os olhos, a boca, os
sorrisos, o corar das bochechas. Nada é mais lindo! Nada é mais enlouquecedor e
ironicamente calmante que estar apaixonado! A pele fala, a sua vó repara, o
tempo para. E, mesmo aos 26, permaneço tão jovem! Isso não leva em conta a
minha idade cronológica, mas a minha habilidade de me apaixonar pela vida, por
pessoas, por contato, palavras e ações. Me apaixono pelo encontro dos dedos e
dos lábios. Permaneço tão jovem e as tempestades marrons me acompanham, porque
é assim que a minha vida acontece: no castanho, com água e barulho.
A sensação de cumplicidade supera os
escuros, as dúvidas, e faz com que as promessas sejam feitas em acordos não
ditos, porque as frases perdem um pouco do status de contrato. Tudo se sabe,
ainda que não expresso. O olhar diz.
E nunca é tempo perdido. Nunca será.
Apaixonar-se é necessário à sobrevivência, num mundo onde jogar-se em confiança e alegria é loucura. Amar é preciso, numa
sociedade em que futilidades tomam o lugar de sentimentos. E borboletear o estômago
é essencial. É termômetro independente do clima.
2 comentários:
Ooooh. O blog com calças novas. Gostei!
Essa músicas é fantástica, mesmo... (momento feelings) Espero um dia me apaixonar e poder dizer: Amar é preciso, viver não é preciso. hahaha (juro que achei que vc escreveria isso)
Bjunda
Seródio
Tudo a ver. Tudo depende do olhar, do ponto de vista ou da vista do ponto.
Aliás, vai o texto sacro: "Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso. Se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas" (Mateus 6, v. 22, segunda parte, e v. 23, primeira parte).
Ocorre que, por vezes, o que nos parece luz, brilho, alegria, etc. etc., são verdadeiras trevas (enganamo-nos), que podem demorar a serem descobertas: "Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão! (Mateus 6, v. 23, segunda parte). Aí, normalmente, a situação fica ruim, tempestades que machucam e destroem.
Não é fácil não.
Texto profundo, que leva à reflexão, e romântico, como sempre.
Bjo.
Bob
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