Até bem pouco tempo atrás poderíamos mudar
o mundo. Quem roubou nossa coragem? (Quando o sol bater na janela
do teu quarto - Legião Urbana)
O primeiro passo. A entrega daquele
projeto. O suspiro pra tomada de decisão. A primeira letra do livro. O abrir dos
olhos de manhã. CADA DIA É UM NOVO DIA!!! E eu já sei, caro leitor, que isso
parece frase de livro de auto-ajuda! Mas quem sabe não estejamos precisando
necessariamente disso? Uma ajuda própria, conselhos óbvios, porque dominamos o
científico, mas o óbvio já ficou pra trás faz tempo! Sabemos de filosofias muito
caras e pouco úteis para o nosso cérebro, mas o “abecê” da vida vai sendo
esquecido no caminho, em meio à poeira dos pés.
Estreamos todos os dias. A ideia não
é romper com qualquer indício de repetição, porque algumas rotinas são
deliciosas demais para serem abandonadas (vide o texto “Parem de falar mal da
rotina, da Elisa Lucinda). Não obstante a vida seja uma roda viva de ciclos que
se iniciam e se repetem, alguns eventos só precisam ocorrer uma vez na vida...
E já tá bão assim!
Se jogar no novo, conhecer realidades
inéditas pra você, outras pessoas e cenários pode ser uma escolha acertada,
afinal de contas! Nos preocupamos com certezas, com o planejamento excessivo e
esquecemos do que se passa lá fora. E não me refiro apenas a mudanças completas
de vida, mas a cada nova estreia, a cada novo momento. A vida é mais simples do
que todas as expectativas mirabolantes que criamos.
Enfrentar o novo talvez seja mais
fácil do que encarar o velho e tentar reformulá-lo. É mais fácil jogar no lixo
uma roupa rasgada de fora a fora do que remendá-la com linha e agulha. Refletir
as práticas diárias e modificá-las para outras melhores é um trabalho árduo. A
verdade é que somos indivíduos extremamente bundões. Tudo está a um centímetro,
mas queremos as coisas na palma das mãos. Mudar dá trabalho e nós não gostamos
disso!
O ano novo está logo ali (ou será
que a minha esperança de que as férias cheguem é que dá essa impressão?) e hoje
fui obrigada a pensar na minha própria vida, e com relação ao aspecto
profissional, principalmente. Hoje foi dia de prova do doutorado. Fiz 3
redações sobre a prática docente e sempre me parece que os professores entram
num marasmo didático depois que se tornam veteranos nas escolas. Isso me
entristece e, de certa forma, me coloco nisso, uma vez que também sou
professora (ainda que não esteja atuando, por causa do mestrado
recém-terminado).
Me lembro de quando estava na
faculdade e queria muito ser professora. Na verdade, já entrei no curso de
Ciências Biológicas com esse intuito, e apesar de ser bióloga, atualmente me
identifico mais frequentemente como professora. Eu passei boa parte das aulas
de prática de ensino imaginando o que eu faria em sala de aula, que tipo de
professora seria, se desenvolveria bem o meu papel. E hoje, justamente hoje, a
prova em branco me pergunta: Quais características podem ser observadas em um
considerado bom professor? Listei algumas coisas que julguei serem importantes
e me lembrei do brilho dos olhos, de um insight
que tive numa viagem de ônibus sobre um tipo específico de aula que daria numa
dessas matérias da licenciatura. E me lembro, claro que me lembro, do meu
desejo de um dia ser considerada como “a melhoooorrr professoraaaa do mundoooo”!!!
Isso já aconteceu, e mesmo que eu saiba que não é verdade, que existem vários
outros melhores que eu, a sensação de dever cumprido é incomparavelmente boa!
Hoje, portanto, me pego lendo um
post antigo publicado aqui em 31 de Agosto de 2010 e comparo a minha realidade
com o que eu planejei. Estou bem, as coisas estão acontecendo rápido... Mas
antigamente eu tinha uma vontade de mudar o mundo, de apresentar às pessoas
novas formas de observar o universo em volta!!! E hoje lembrei disso e das
mudanças que ocorreram na minha vida. Tive surpresas boas, outras surpresas eu
mesma preparei pra mim, e certos planos foram deixados de lado. Mas hoje, ao
responder essa questão para a redação, me coloquei novamente como a moça de 20
anos que queria ser professora acima de tudo, mudar os ecossistemas da vida
real e que parecia ter a receita para tudo isso na ponta da língua.
Hoje
fui pressionada a ser mais grata e mais perseverante. Já passei por muitas
coisas e sei que posso ser a mudança que eu mesma preciso. O ponto de vista é
influenciado pelas lentes que usamos. Hoje decidi modificar algumas coisas e
usar a lente do otimismo para outras que não posso. E, neste exato momento, me
vem à cabeça a oração da serenidade: Concedei-me,
Senhor, serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar,
coragem para modificar aquelas que posso e sabedoria para distinguir umas das
outras.
Os
sonhos podem ser resgatados; a esperança pode ser passada a limpo; um novo rumo
pode ser tomado. Só nos resta seguir em frente com novos olhos e novo fôlego!