Queria
escrev
Não adianta iluminar o espaço em
branco. Não há letras para serem lidas. Fique tranqüilo.
Sua tela não está com problemas e sua vista não está tão ruim.
Nada.
Um minuto de silêncio quando alguém
se foi é a comprovação de que nossa inquietude discursiva é característica
nata. Nem dentro da barriga da mãe estamos em total silêncio, quanto mais nesse
mundão de meu Deus! Onde encontramos o nada? Em qual local está o vazio?
O silêncio gera em nós um incômodo, vez
por outra, tão grande quanto nosso estresse diário com barulhos e outras coisas. Buscamos preenchimento. Não
ouvir nenhum som, permanecer num vazio de vocabulário é irritante para nós, seres
tão ligados em tecnologia, ávidos por alguma nova informação, argumento ou conversa
fiada. NÃO VAI FALAR NADA???
Nossas bocas podem estar mudas, mas
nossa mente está fervendo. Não encontramos silêncio nem mesmo internamente.
Vivemos insones. Nem nossos sonhos são calados!
Para onde se foge do tulmulto dos
gritos da cabeça, das pessoas, da cidade, do mundo? Meditação? Oração? Ioga? Retiro espiritual? Terapia?
A Bíblia, tão cheia de bons conselhos
e tão rica em boas respostas, afirma: Há “...tempo de calar, tempo de falar” (Eclesiastes
03:07). Tantas coisas podem ser entendidas e ditas com palavras!! E tantas
outras podem ser sentidas e expressas no silêncio!!!
Nosso intelecto tem formas próprias
de nos interrogar. Eu, como boa falante que sou, falo mesmo! Isso independe da presença física de um
interlocutor participante. Ok, assumo, portanto, que falo sozinha, argumento
COMIGO e para mim: às vezes eu ganho de mim mesma... às vezes eu perco.
Raramente estou em total silêncio! Em certos momentos, não falo para fora, mas,
sim, para dentro. E meu discurso internamente persuasivo é tão forte, que nem
sempre sei quando estou do lado do meu advogado intrínseco ou do meu promotor.
Às vezes sou mera juíza de mim mesma, declarando empate entre as partes
envolvidas. Meu grilo falante BERRA, não fala. E ele não apenas me aconselha a
fazer o que é correto na vida, mas palpita muitoooo, tagarela sobre tudo! Eu
acho que tenho o grilo falante mais barulhento e intromedido do mundo! Eu o escuto na
maior parte das vezes, mas quando to sem paciência com ele, tapo os ouvidos tal
qual uma criança de 5 anos e falo mais alto: LÁLÁLÁLÁLÁLÁ!!!!
Somos apressados em falar ou
simplesmente manifestar um parecer, ainda que não seja em palavras, ainda que
por meios não verbais (CURTIR, no face!) Esperamos ansiosamente por
opiniões, quando às vezes nos é dada a oportunidade de calar, esperar, ou
confessar para si mesmo e para Deus, em silêncio, o que nos aflige, alegra,
preocupa ou prende. Para isso, tem-se o momento de oração silenciosa na igreja:
conversa-se com Deus, os pecados são confessados e clama-se por perdão. E aí é que ta
o galho: algumas pessoas esperam menos de 10 segundos para interromper o
silêncio das orações na igreja. Mal falei “oi, Deus, td bem? Então, vamos
conversar” e nego já mete o louco na minha oração silenciosa!!! (Ai, extravasei!
Tava muito culta até agora na postagem!! Hahahaha)
Onde está a paciência para o silêncio?!
Nem professores a têm! Alguns estudos falam sobre o wait-time. Eu usei isso na minha dissertação do mestrado. Esse wait-time é o tempo em silêncio entre
alguma pergunta feita pelo professor e uma possível resposta do aluno. Esse
tempinho, de acordo com alguns autores, muitas vezes não passa de um segundo!!!
Sabe lá o que é isso? O professor faz a pergunta e logo já dá uma resposta pra
ela, porque, olha que absurdo, o aluno demorou MAIS DE UM SEGUNDO PRA PENSAR
NUMA RESPOSTA, FORMULÁ-LA NA CABEÇA E EXPRESSÁ-LA VERBALMENTE!!! Os dias são
difíceis e passam voando pra quem é caladão! Calou, perdeu!
Eu mesma tenho pressa. Falo no: 1, 2,
JÁ!! Nem espero chegar no 3. To me controlando um pouco mais, depois de já ter
falado umas tantas abobrinhas por aí. O silêncio que precede a ruína de uma
discussão por uma palavra proferida é o que divide o “pensar merda” do “falar
merda”. Nem sempre respeitamos nosso grilo falante. Ele berra... E continuamos
a “lálálálá”, com as palmas das mãos nas orelhas.
O silêncio pode ser argumentativo. O
silêncio pode ser consolador. O silêncio pode ser altamente comunicativo quando
duas pessoas se conhecem PRÁ VALER!! Quantas vezes sua mãe te olhou feio no
supermercado e você soube que não
era pra brincar na área das louças de cerâmica? Sem falar nada...
O silêncio pode ser alegria, pode
ser amor!!! O silêncio pode ser contemplativo! Olhar nos olhos de alguém
e saber o que o outro sente é algo
tão digno de importância quanto as declarações faladas... Em certos casos, até
mais sincero! O silêncio da contemplação parece estar se perdendo num mar de
verbos, sujeitos, advérbios, adjetivos e predicados! Cadê o suspirar sem falar?
Não acho que meu maior defeito seja
falar demais. Aliás, não sei se falar demais é um defeito. Talvez, o ruim seja
falar sem pensar, e não, ter uma verborragia crônica e consciente. Talvez, a
falta de qualidade esteja na fofoca, na preocupação miserável em falar da vida
alheia, não na quantidade que se fala. Mas, sinceramente? Sinto tanto a falta
do silêncio quanto a falta de pessoas que SAIBAM CONVERSAR!!
Em tempos em que monossílabos
viraram citações célebres, saber conversar, formular uma frase com sentido,
virou uma virtude, tanto quanto a de saber silenciar.
E silenciar-se um pouco pode ser tão
aliviador quanto o conselho de um amigo querido!